terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Práticas Educativas no âmbito da Educação Não Formal: construindo novos valores e possibilidades de mudanças


Práticas Educativas no âmbito da Educação Não Formal: construindo novos valores e possibilidades de mudanças

                                                                                                                                                         Manoela N. de Brito Scopel


INTRODUÇÃO


                 Este artigo objetiva refletir sobre o impacto que as influencias do contexto social tem sob a vida das crianças
e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e a importância do papel do educador social na
minimização desses impactos.
                 As crianças e adolescentes atendidos na Associação Criança Feliz estão inseridos num contexto
de vulnerabilidade social e exposição a riscos sociais o que vem interferir diretamente no seu
desenvolvimento psicosocial. A história de cada um deles esteve ou esta marcada pelos diversos tipos de violência,
pela precoce inserção no mercado de trabalho, pela desestruturação dos núcleos familiares, pela proximidade
com o tráfico ou uso de drogas e suas conseqüências, portanto a maioria deles já conhece e/ou conviveu com o
lado desumano da vida.

IMPACTOS DO CONTEXTO SOCIAL: UMA REALIDADE A SER TRANSFORMADA

              Uma das influencias no contexto social que emerge na vida das crianças e adolescentes e suas famílias esta
na estrutura econômica capitalista, onde cada vez mais se vive numa realidade complexa, globalizada, excludente, informatizada e competitiva, onde neste processo modificam-se relações culturais, posturas, valores, os quais
refletem diretamente no âmbito familiar, escolar e social. Contexto onde grande parte das famílias em situação de vulnerabilidade social tem seus direitos violados como: habitação digna, serviços de saúde, educação, assistência, cultura, esporte e lazer de qualidade e possibilidade de inserção no mercado de trabalho.
                  A baixa qualidade na relação familiar pode ser um facilitador a diversos riscos sociais que a criança e adolescente pode vir a se expor, somando as inúmeras situações vivenciadas no cotidiano que colaboram para a fragilização das redes de suporte social. As situações de vulnerabilidades sociais representam ameaças, perdas e danos a esse segmento.
                 Nas camadas populares por uma questão de sobrevivência, as famílias dos jovens consideram que ao
atingir uma determinada idade, eles devem se inserir no mercado de trabalho vislumbrando um acréscimo na renda familiar. Esse entendimento coloca em risco a continuidade dos estudos e algumas vezes impossibilitam
o aperfeiçoamento dos jovens, pois quando não se consegue conciliar estudos/cursos com o trabalho a maioria das vezes os jovens acabam optando pelo trabalho, surgindo assim pessoas desqualificadas para o mercado de trabalho.  Pessoas em situação de vulnerabilidade social padecem de privações e carências, mas também apresentam potenciais que podem ser mobilizados.
                  Muitas famílias são chefiadas por mulheres, compostas por crianças, adolescentes, filhos dos adolescentes, avó, avô e vivem em condições precárias de moradia, com espaço insuficiente para todos os membros e se sustentam através de benefícios, pensões, aposentadorias de pessoas mais velhas, trabalhos informais e até ilegais. Cita-se também as diversas formas de violência doméstica[1] que estas crianças e adolescentes vem sido submetidos, muitas vezes, situações estas que já foi assimilada culturalmente pelas famílias. Sabe-se que o crescimento de crianças com modelos de adultos negativos pode ser uma ameaça ao bem estar e uma limitação às oportunidades
de desenvolvimento, essa situação contribui efetivamente para alteração do desenvolvimento biopsicosocial de crianças e adolescentes. Conforme percebe-se na citação de Rachel Harris:

 As maneiras como os pais resolvem as diferenças e lidam com as crises familiares prepara o ambiente para os filhos aprenderem a lidar com os conflitos, seja com hostilidade e briga ou com o diálogo construtivo e empenho por uma solução. (2009, pg. 23)

                  Permeados por essa diversidade, o trabalho com crianças e adolescentes se torna um desafio, o ato de
educar na atualidade exige: rigorosidade metódica, pesquisa, respeito ao educando, uso das palavras pelo exemplo, aceitação do novo, rejeição de qualquer forma de discriminação, reflexão crítica sobre a prática, bom senso, humildade, alegria, tolerância e essencialmente acreditar que a mudança é possível.
                  Diante dessas exigências ao Educador Social é relevante dizer que esta profissão é exercida por diversas especializações, as quais se permite a articulação de diversos saberes possibilitando a construção de novos conhecimentos que vem a ter desdobramentos em uma prática competente, inovadora, crítica e eficaz. “O conhecimento não é só um verniz que se sobrepõe superficialmente à prática profissional, podendo ser dispensado, mas é um meio pelo qual é possível decifrar a realidade e clarear a condução do trabalho a ser realizado”, diz Iamamoto (2007, p.63).
                 Neste contexto, a instituição com foco na educação não formal e com atividades de turno contrário ao da escola, o educador social é uma peça chave. Para entregarmos a sociedade um cidadão melhor, é preciso oferecer um trabalho que possua pessoas qualificadas e determinadas, espaço físico adequado, planejamento e o fundamental: amor entre aqueles que fazem parte desta estrutura. O Processo de trabalho coletivo cujo produto seja a melhoria na trajetória
de vida dos sujeitos sociais.


PRÁTICAS EDUCATIVAS NA EDUCACÃO NÃO FORMAL: REFLEXÕES SOBRE O FAZER DO EDUCADOR SOCIAL

                  As instituições de educação não-formal possibilitam vivências profundas entre educador e educando. Nessa relação à criança e adolescente tem a oportunidade de falar sobre si mesmo, seus sentimentos, suas crenças e atitudes possibilitando a aquisição de habilidades que os fortalecem diante das diversas situações do seu cotidiano. O educador com sua bagagem de conhecimento poderá promover a redefinição de trajetórias de vidas, conferindo-lhes instrumentos hábeis a possibilitar a tomada de consciência crítica sobre a sua condição, sobre isso Paulo Freire coloca, “que possibilitando projetos de vida autônomos das crianças e adolescentes, mudanças de valores, formas de expressar sentimentos e desejos e na sua ausência, proporcionar a busca dos mesmos”. (FREIRE, 1983)
                 Essa função social é melhor exercida na medida que a leitura do contexto social for instigada a ser feita, quando o profissional passa a perceber o público alvo como seres humanos, como sujeitos socioculturais, ou seja, que se esteja ciente que os usuários  foram socializados por outros valores e de acordo com outras regras, que possuem outro tipo de vivências, que tem outros conhecimentos, outros interesses, outras inquietações, outras formas de pensar a vida e aos poucos o senso comum dos conceitos e pré-conceitos, vão desaparecendo dando lugar para uma prática de ação educativa reflexiva  orientada  por um processo de mudança e transformação. Conforme Iamamoto:

 A competência critica capaz de decifrar a gênese dos processos sociais, suas desigualdades e as estratégias de ação para enfrentá-las. Supõe competências teórica e fidelidade ao movimento da realidade, competência técnica e ético-política que subordine o “como fazer” ao “o que fazer” e, este, ao “deve ser”, sem perder de vista seu enraizamento no processo social. (2007, p. 80).

                  A realidade vivenciada necessita ser refletida para ser modificada pelo sujeito que, conhecendo-a e agindo sobre a mesma, consegue transformá-la e transformar-se. Uma relação educativa pressupõe conhecimento de sentimentos próprios e alheios não se permitindo apenas planejar aulas e sim vidas, sendo assim percebe-se que os educadores exercem uma influência definida sobre a criança, porque está constantemente ligada a ela, isto ajuda  estabelecer a imagem que ela tem de si mesma.
                 Dar conta dessa realidade é o desafio de quem trabalha com crianças, adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade social e para enfrentá-la é preciso se utilizar de alguns saberes que possam contribuir com a prática cotidiana, como: Cultura da Paz, Terceiro Setor, Educação não formal, Meio Ambiente, Comportamento Humano, Desenvolvimento Social, conhecimento da política da qual esta inserido. Também há alguns instrumentos de trabalho que são importantes e facilitam o fazer, como: domínio de técnicas de mediação de conflitos, técnicas de diálogo, de investigação apreciativa[2], técnicas de dinâmicas de grupo, jogos cooperativos, entre outros e acrescentado a essas sugestões as experiências, vivencias e saberes acumulados ao longo do processo de desenvolvimento do profissional.  
                 Diante do exposto observa-se que o objetivo da ação do educador social no espaço da educação não formal orienta-se para um rumo futuro que implique, no presente, um projeto de transformação, uma renovação social, em
 um cotidiano que necessitará de estratégias que possibilitem sucessivas aproximações que possam desencadear ações de aprendizados, objetivando intervenções planejadas e implicará em ter uma proposta teórico-metodológica para desenvolver o trabalho que será essencial para dar qualidade as ações e adquirir melhores resultados.


 CONSIDERACÕES FINAIS


                   Espera-se, com esse artigo poder refletir sobre o público-alvo do qual estamos inseridos, sobre suas vulnerabilidades sociais, a fim de melhor compreendê-las e concomitantemente refletir a prática do educador
social dentro de um espaço não formal.
Paulo Freire sonhava com uma sociedade, um mundo, onde todos coubessem. A educação pode dar um passo nesse mundo possível, onde podemos ensinar as pessoas com um novo paradigma do conhecimento, com uma visão
de mundo onde todas as formas de conhecimento tenham lugar. Educador tem a possibilidade de empoderar os sujeitos e criar melhores expectativas de vida.
                  Para promover a proteção, inserção desse público é necessário trabalhar com as marcas deixadas pela situação de exclusão social em suas vidas no cotidiano do desenvolvimento das ações. Isso quer dizer que as soluções muitas vezes apontadas pela sociedade como aparentemente simples não necessariamente o são.
                   Assim, o papel dos profissionais na vida dessas crianças e adolescentes é muito importante, pois se
constrói uma relação de vínculo, que vem auxiliá-los quanto aos problemas existentes nas suas vidas, diminuindo os sentimentos de exclusão social, prevenindo maus tratos, abusos, negligências e até mesmo, encaminhando estes para áreas afins, com intuito de minimizar as conseqüências das causas existenciais.

               


REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS


COOPERRIDER, David. Investigação Apreciativa, Gestão Positiva de Mudanças. Disponível em  http://www.unitedglobe.com/coachingnasescolas/investigacao.htm. Acessado em 20 de outubro de 2010.


CURY, Augusto. O código da inteligência. Rio de Janeiro. Ed. Ediouro, 2008.
FREIRE, P. Educação como prática para a liberdade. Rio de Janeiro. Ed. Paz e Terra, 1983

HARRIS, Rachel. As crianças aprendem o que vivenciam. Rio de Janeiro. Ed. Sextante, 2009.

IAMAMOTO, M. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

MONTEIRO, Fernanda O. Serviço Social e Sociedade: Plantão Social, espaço privilegiado para a identificação/notificação de violência contra criança e adolescente. São Paulo. Ed. Cortez. 2010





























 

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